![](https://basketangola.ao/wp-content/uploads/2021/07/slide.jpg)
Pela primeira vez em três décadas Angola vai a um campeonato africano de basquetebol sabendo que nada conquistará. Não apenas porque a Nigéria, com uma equipa de segundas ou terceiras linhas dos seus activos que evoluem na NBA, está fadada a ganhar a competição, mas também porque hoje há outras seleções mais fortes, tais como Senegal e a Tunísia. De modo que se a equipa super-campeã africana subir ao pódio, o que é muito pouco provável, já será lucro farto.
O que acontece agora é quase semelhante ao que aconteceu no início da história das participações angolanas em “Afrobaskets”. Ou seja, todos sabiam que a equipa regressaria da prova de mãos a abanar. Mas havia uma diferença. Então, havia uma perspectiva enorme de crescimento e de melhoria, já que mais ou menos em 1980 a “intelligentsia” do basquetebol angolano juntou-se para trabalhar de modo sincronizado, independentemente dos emblemas que cada um defendia, para encontrar caminhos que levassem à conquista de títulos.
À época, a “task-force” que liderava o processo de modernização do basquetebol apontou um horizonte temporal de 10 anos para que Angola, com organização, trabalho porfiado e muita disciplina chegasse ao seu primeiro título africano. E foi mais ou menos isso o que aconteceu. Sete anos depois do início da caminhada Angola conquistou o primeiro “Ouro” no basquetebol africano, algo que aconteceu no torneio dos Jogos Pan-Africanos do Quénia, em 1987. Passados dois anos chegou a suprema consagração no “Afrobasket”, marcando o início de um longevo domínio continental.
Luanda’89 assinalou o ponto inicial de uma hegemonia que durou mais de três décadas. De Alexandria’81 a Dakar/Tunis’17 a Selecção Nacional esteve sempre no pódio de honra africano. Nesse transcurso, Angola conquistou 11 títulos em 17 edições, sendo que em apenas três ocasiões não chegou à final. Isto aconteceu em Túnis’87, Dakar’97 e 2017. E ausente do pódio só esteve uma vez, exactamente na última edição da prova. Curiosamente, em anos com terminação 7 em que o “Afrobasket” não foi disputado em Angola – aconteceu apenas uma vez, em 2007 – o “cinco” nacional não subiu ao pódio, Mas isto é um mero fait-divers…
A História da Humanidade ensina-nos que não há “impérios” eternos, sendo que cada um conhece o respectivo período de ascensão e queda. Isto é quase bíblico. Foi assim, por exemplo, com os impérios Mongol, Otomano e Macedônio Antigo, só para citar estes… Esta realidade também se replica no desporto. Há ciclos vitoriosos que chegam ao fim e faz-se necessário recomeçar, partir do zero ou um pouco mais acima, em busca da reconquista do status perdido. A NBA é um pouco o espelho dessa realidade…
No basquetebol africano, Angola terminou o seu ciclo vitorioso em 2015, quando subiu pela última vez ao pódio, ao ocupar a terceira posição. Há mais de uma década, porém, que foram dados sinais de que estava quase a chegar ao fim do ciclo e nada foi feito até agora para o recomeço de uma nova etapa. O título de Tripoli’09 já foi conseguido com muito estertor, quase à justa. O de Abidjan’13 também foi muito penoso! Depois disso, em Dakar/Tínis’17 Angola caiu de borco e com estrondo, ouvido um pouco por todo o continente. Pela primeira vez em quatro décadas Angola não subiu ao pódio e, mais grave do que isso, ficou no sétimo lugar. Como na edição de estreia em Casablanca’80!
Apesar de estrondosa, a queda de Angola não despertou os decisores do basquetebol. Reagiram como se nada tivesse acontecido, o que é de todo estranho, porque o basquetebol sempre foi exemplar na busca de soluções para ultrapassar as adversidades. A inércia da “sociedade basquetebolística” do país deixou que passasse quase meia década e agora percebe-se que o buraco é bem mais fundo.
A imagem deixada pela Seleção Nacional no torneio pré-olímpico ocorrido em Kaunas foi confrangedora demais. Foi amolgada nos dois desafios que disputou, designadamente com a Polónia e a Eslovénia, os quais perdeu por 64-83 e 68-118, respectivamente. Com esses adversários, são números assustadores que há muito deixaram de marcar os placards de Angola em palcos internacionais. São algarismos que não deixam vislumbrar futuro tranquilo, pelo menos no curto prazo. Nem nos primórdios a diferença pontual diante de adversários dessa estaleca era tão abissal!
Por tudo isso, o “Afrobasket’21”, que inicia a 24 de Agosto em Kigali, será seguramente penoso para Angola. À partida, a lógica indica que Angola deva qualificar-se para os quartos de finais, com maiores ou menores dificuldades. Afinal, teoricamente é a seleção mais forte da série A, com RD Congo, Cabo Verde e o anfitrião Ruanda. Mas se “cair” na primeira fase não será surpresa total. Porque a forma como estertorou nas janelas de qualificação – até com o Quénia perdeu! – não inspira muita confiança. Aquela Angola de há sensivelmente uma década é algo do passado, faz parte dos arquivos da história. O presente é outro, inclemente e cruel. Já ninguém teme as camisolas vermelhas do “cinco” angolano.