“Estarei a torcer por Angola
no Afrobasket do Ruanda”

Desde que ingressou na NBA, em 2019, escrevendo o seu nome na história do basquetebol angolano, Bruno Fernando tornou-se uma espécie de embaixador de Angola, e em particular da «bola ao cesto» nacional, num dos maiores palcos do mundo: a National Basketbal Association. Em cada exibição que faz, agora pelos Celtics, é o nome de Angola que é referenciado. Aquando da sua recente vinda a Luanda, a Basket Angola teve a honra de poder entrevistá-lo, para a nossa edição inaugural.

BASKET ANGOLA: Circulou nas redes sociais um vídeo exibicional seu em que aparece treinando-se, numa espécie de academia de alta performance. No vídeo, falavas do teu dia-a-dia, como jogador da NBA, sublinhando que praticamente não tinhas tempo para pensar em mais nada diferente do basquetebol. Terá havido algum exagero?

LAS VEGAS, NV – AUG 10: Bruno Fernando #55 of the Boston Celtics rebounds the ball against the Denver Nuggets during the 2021 Las Vegas Summer League on August 10, 2021 at the Thomas & Mack Center in Las Vegas, NV. NOTE TO USER: User expressly acknowledges and agrees that, by downloading and or using this photograph, User is consenting to the terms and conditions of the Getty Images License Agreement. Mandatory Credit: 2021 NBAE (Photo by Chris Elise/NBAE via Getty Images)

BRUNO FERNANDO: Primeiro quero agradecer por esta oportunidade. E não! O que disse no vídeo não é exagero nenhum. É real. Nós temos um dia-a-dia muito detalhado. Na NBA, obviamente temos um pouquinho mais de liberdade de poder ter um tempozinho depois, no final do dia. Mas ainda assim, durante a temporada, é um dia totalmente detalhado. Imagine que nós treinamos todos os dias de manhã. Aquilo é, vais para o Practice Facillity e não sais de lá antes das 14:00.

BA: O que é o Practice Facility?

BF: É o local de treino da equipa (o Team Practice Facility). Chegas às 9 da manhã e não sais de lá antes das 14:30. Depois tens o resto do dia e algumas vezes tens jogos às 19:00, 19:30 ou 20:00. Então, praticamente o teu dia foi e não tiveste nada para fazer. Porque assim que chegares à casa tens logo que começar a preocupar-se com o jogo, porque eles dão-nos os booklets das equipas com quem vamos jogar, para estudarmos, como se estivéssemos mesmo numa aula. É para aprendermos como as equipas adversárias atacam, como defendem, enfim., como elas jogam.

BA: Podemos chamar a isso dormir e acordar com o Basket?

BF: Praticamente é isso. Se fores a ver, o teu dia todo é relacionado com o Basket, seja quando estás a assistir um filme ou estando em campo. Na prática, tem sempre Basket envolvido. Mas alguns dias tipo fins-de-semana, domingo né…, alguns domingos em que nós não temos jogo, são dias em que os treinadores e a equipa deixam-nos tirar um tempo para nós. Mas que essa intensidade de ser tudo basket… existe.

BA: Conte-nos como foi para ti. Ao chegares de certeza ouviste muitas histórias de uns que conseguiram, deram certo e outros que não conseguiram. Isso motivou-te a te esforçares para conseguir?

BF: Nos últimos anos o continente africano começou a registar um certo declínio, no que diz respeito ao basket. E se não tivermos maneiras de nos enquadrar ao mais alto nível do basquetebol isso prejudica-nos ainda mais.
Para mim isso serviu de motivação para querer mais e estar lá também. Por outro lado, havia aquela coisa de ter lá jogadores do Congo, da Nigéria, jogadores daqui e dali, e nós, Angola, que conseguimos dominar África durante tantos anos de facto não tínhamos. Essa também foi uma grande motivação para mim. Querer trabalhar arduamente, querer fazer acontecer… e aqui estamos.

BA: Quem é o seu amigo Bruno?

BF: Na minha equipa?

BA: Na sua equipa, na cidade…

BF: Tenho vários amigos. Na equipa especificamente sou amigo de todos, mas tenho uma relação tremenda com John Collins, com o Kevin. Obviamente eu e o Kevin Hurter estudamos juntos na Universidade, jogamos juntos, então essa relação já estava estabelecida. Sou muito próximo ao Trae (Young) também. Os outros rookies que entraram comigo também. O Cam (Reddish) e o De’Andre (Hunter). O Clint (Capela) é como um irmão mais velho pra mim. Obviamente temos as mesmas ascendências africanas, e talvez por isso também eles procura colocar-me sempre sobre os braços dele, como seu irmão menor, dá-me muitas dicas sobre como fazer e melhorar cada vez mais.

BA: Mas é engraçado que a chegada dele (Clint) coincide com menos tempo de Bruno em campo. O que se pensa é que vocês não têm uma boa relação…

BF: Isso não é verdade. De facto acontece de as pessoas falarem da NBA sem perceber o que é a NBA realmente. E nós como atletas, estando lá, ter a experiência que temos lá, conhecemos melhor a liga. Conhecemos as coisas que se passam na liga. A liga tem disso. Tem momentos altos e baixos. Principalmente para jogadores novos, como eu, no primeiro ou segundo ano. Tenho uma carreira muito longa pela frente e eu sabia que havia de ter momentos assim ao longo deste mesmo percurso. Então nunca me preocupei com isso. Mantenho-me firme. Continuo a trabalhar, porque espero por momentos bons e melhores que se aproximam, já sejam eles em Atlanta ou em qualquer outro lugar em que me for dada oportunidade.

BA: O seu futuro imediato passa ainda por Atlanta?

BF: Assinei um contrato de 3 anos com Atlanta. Joguei as minhas duas temporadas e só me torno free agent no verão de 2022.

BA: Diga-nos como foi. Voltou a ver a sua família alguns anos depois?

BF: Yah (sim)!

BA: Como é que foi a sensação de poder voltar a vê-los novamente, depois de tanto tempo?

BF: Foi fantástico. Eu não avisei a ninguém que vinha. Viajei sem dizer nada a ninguém e quando cheguei, fui lá pra casa e entrei. Aquilo foi engraçado. As pessoas não estavam à espera. Primeiro foi um espanto verem-me entrar, mas depois a emoção tomou conta deles e nem conseguiram controlar-se de tanta emoção.

BA: Como é pra si ter que voltar a jogar a Summer League, que é na verdade uma espécie de mercado onde são negociados activos de diferentes clubes. O que isso significa para si e para a sua carreira?

BF: Estou completamente a vontade. Estou focado e é este o meu estado de espírito. Joguei a Summer League no ano em que fui draftado! Mas é como tu dizes, é mais uma oportunidade que temos que aproveitar e dar o melhor possível. Uma coisa que temos que recordar sempre é que a NBA é uma liga com 30 equipas. As vezes quando a oportunidade diminui numa equipa pode acrescentar numa outra. O mais importante é que o nosso valor está naquilo que fazemos em campo. A Summer League é mais uma oportunidade para poder demonstrar quem eu sou e aquilo que eu posso realmente fazer para acrescentar valor numa equipa.

BA: O que você deseja dos seus companheiros da Selecção em Kigali?

BF: Desejo-lhes toda sorte do mundo! Todos nós estaremos a acompanhar. Se for – porque estarei sempre aberto e disponível até ao último minuto -, então serei um deles, em campo a ajudar Angola. Se não for possível integrar o grupo, estarei a torcer por eles, pela nossa equipa. Mas desejo tudo de bom. Que Angola volte aos dias de glória. Sei que estão a trabalhar arduamente onde estão, pelo que a única coisa que desejo é que tudo corra bem e que tenhamos bons resultados.

Ficha do Atleta
Bruno Fernando
Jogador profissional de basket angolano

Bruno Afonso David Fernandes, também conhecido por Bruno Fernando, é um jogador profissional de basquetebol angolano actualmente nos Boston Celtics da National Basketball Association (NBA). Em Angola fez a formação no 1º de Agosto, antes de ir para os Estados Unidos da América onde jogou basket universitário no Maryland Terrapins.

Idade: 23 anos (nascido em Luanda aos 15 de Agosto de 1998)
Altura : 2,06 m
Ingresso: 2019 (Ronda: 2 / Escolha: 34)
Educação : Universidade de Maryland
Carreira: 2019 – presente
2019 – 2021: Atlanta Hawks
Presente: Boston Celtics

 

Estatísticas

Ano Equipa GP Min Pts Reb
2021 Celtics 04 15 9,25 5,25
2020 Hawks 33 6.8 1,5 2,4    
2019 Hawks 56 12,7 4,3 3,5
Carreira 89 10,6 3,3 3,1

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