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“Estarei a torcer por Angola
no Afrobasket do Ruanda”
Desde que ingressou na NBA, em 2019, escrevendo o seu nome na história do basquetebol angolano, Bruno Fernando tornou-se uma espécie de embaixador de Angola, e em particular da «bola ao cesto» nacional, num dos maiores palcos do mundo: a National Basketbal Association. Em cada exibição que faz, agora pelos Celtics, é o nome de Angola que é referenciado. Aquando da sua recente vinda a Luanda, a Basket Angola teve a honra de poder entrevistá-lo, para a nossa edição inaugural.
BASKET ANGOLA: Circulou nas redes sociais um vídeo exibicional seu em que aparece treinando-se, numa espécie de academia de alta performance. No vídeo, falavas do teu dia-a-dia, como jogador da NBA, sublinhando que praticamente não tinhas tempo para pensar em mais nada diferente do basquetebol. Terá havido algum exagero?
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BRUNO FERNANDO: Primeiro quero agradecer por esta oportunidade. E não! O que disse no vídeo não é exagero nenhum. É real. Nós temos um dia-a-dia muito detalhado. Na NBA, obviamente temos um pouquinho mais de liberdade de poder ter um tempozinho depois, no final do dia. Mas ainda assim, durante a temporada, é um dia totalmente detalhado. Imagine que nós treinamos todos os dias de manhã. Aquilo é, vais para o Practice Facillity e não sais de lá antes das 14:00.
BA: O que é o Practice Facility?
BF: É o local de treino da equipa (o Team Practice Facility). Chegas às 9 da manhã e não sais de lá antes das 14:30. Depois tens o resto do dia e algumas vezes tens jogos às 19:00, 19:30 ou 20:00. Então, praticamente o teu dia foi e não tiveste nada para fazer. Porque assim que chegares à casa tens logo que começar a preocupar-se com o jogo, porque eles dão-nos os booklets das equipas com quem vamos jogar, para estudarmos, como se estivéssemos mesmo numa aula. É para aprendermos como as equipas adversárias atacam, como defendem, enfim., como elas jogam.
BA: Podemos chamar a isso dormir e acordar com o Basket?
BF: Praticamente é isso. Se fores a ver, o teu dia todo é relacionado com o Basket, seja quando estás a assistir um filme ou estando em campo. Na prática, tem sempre Basket envolvido. Mas alguns dias tipo fins-de-semana, domingo né…, alguns domingos em que nós não temos jogo, são dias em que os treinadores e a equipa deixam-nos tirar um tempo para nós. Mas que essa intensidade de ser tudo basket… existe.
BA: Conte-nos como foi para ti. Ao chegares de certeza ouviste muitas histórias de uns que conseguiram, deram certo e outros que não conseguiram. Isso motivou-te a te esforçares para conseguir?
BF: Nos últimos anos o continente africano começou a registar um certo declínio, no que diz respeito ao basket. E se não tivermos maneiras de nos enquadrar ao mais alto nível do basquetebol isso prejudica-nos ainda mais.
Para mim isso serviu de motivação para querer mais e estar lá também. Por outro lado, havia aquela coisa de ter lá jogadores do Congo, da Nigéria, jogadores daqui e dali, e nós, Angola, que conseguimos dominar África durante tantos anos de facto não tínhamos. Essa também foi uma grande motivação para mim. Querer trabalhar arduamente, querer fazer acontecer… e aqui estamos.
BA: Quem é o seu amigo Bruno?
BF: Na minha equipa?
BA: Na sua equipa, na cidade…
BF: Tenho vários amigos. Na equipa especificamente sou amigo de todos, mas tenho uma relação tremenda com John Collins, com o Kevin. Obviamente eu e o Kevin Hurter estudamos juntos na Universidade, jogamos juntos, então essa relação já estava estabelecida. Sou muito próximo ao Trae (Young) também. Os outros rookies que entraram comigo também. O Cam (Reddish) e o De’Andre (Hunter). O Clint (Capela) é como um irmão mais velho pra mim. Obviamente temos as mesmas ascendências africanas, e talvez por isso também eles procura colocar-me sempre sobre os braços dele, como seu irmão menor, dá-me muitas dicas sobre como fazer e melhorar cada vez mais.
BA: Mas é engraçado que a chegada dele (Clint) coincide com menos tempo de Bruno em campo. O que se pensa é que vocês não têm uma boa relação…
BF: Isso não é verdade. De facto acontece de as pessoas falarem da NBA sem perceber o que é a NBA realmente. E nós como atletas, estando lá, ter a experiência que temos lá, conhecemos melhor a liga. Conhecemos as coisas que se passam na liga. A liga tem disso. Tem momentos altos e baixos. Principalmente para jogadores novos, como eu, no primeiro ou segundo ano. Tenho uma carreira muito longa pela frente e eu sabia que havia de ter momentos assim ao longo deste mesmo percurso. Então nunca me preocupei com isso. Mantenho-me firme. Continuo a trabalhar, porque espero por momentos bons e melhores que se aproximam, já sejam eles em Atlanta ou em qualquer outro lugar em que me for dada oportunidade.
BA: O seu futuro imediato passa ainda por Atlanta?
BF: Assinei um contrato de 3 anos com Atlanta. Joguei as minhas duas temporadas e só me torno free agent no verão de 2022.
BA: Diga-nos como foi. Voltou a ver a sua família alguns anos depois?
BF: Yah (sim)!
BA: Como é que foi a sensação de poder voltar a vê-los novamente, depois de tanto tempo?
BF: Foi fantástico. Eu não avisei a ninguém que vinha. Viajei sem dizer nada a ninguém e quando cheguei, fui lá pra casa e entrei. Aquilo foi engraçado. As pessoas não estavam à espera. Primeiro foi um espanto verem-me entrar, mas depois a emoção tomou conta deles e nem conseguiram controlar-se de tanta emoção.
BA: Como é pra si ter que voltar a jogar a Summer League, que é na verdade uma espécie de mercado onde são negociados activos de diferentes clubes. O que isso significa para si e para a sua carreira?
BF: Estou completamente a vontade. Estou focado e é este o meu estado de espírito. Joguei a Summer League no ano em que fui draftado! Mas é como tu dizes, é mais uma oportunidade que temos que aproveitar e dar o melhor possível. Uma coisa que temos que recordar sempre é que a NBA é uma liga com 30 equipas. As vezes quando a oportunidade diminui numa equipa pode acrescentar numa outra. O mais importante é que o nosso valor está naquilo que fazemos em campo. A Summer League é mais uma oportunidade para poder demonstrar quem eu sou e aquilo que eu posso realmente fazer para acrescentar valor numa equipa.
BA: O que você deseja dos seus companheiros da Selecção em Kigali?
BF: Desejo-lhes toda sorte do mundo! Todos nós estaremos a acompanhar. Se for – porque estarei sempre aberto e disponível até ao último minuto -, então serei um deles, em campo a ajudar Angola. Se não for possível integrar o grupo, estarei a torcer por eles, pela nossa equipa. Mas desejo tudo de bom. Que Angola volte aos dias de glória. Sei que estão a trabalhar arduamente onde estão, pelo que a única coisa que desejo é que tudo corra bem e que tenhamos bons resultados.
Ficha do Atleta
Bruno Fernando
Jogador profissional de basket angolano
Bruno Afonso David Fernandes, também conhecido por Bruno Fernando, é um jogador profissional de basquetebol angolano actualmente nos Boston Celtics da National Basketball Association (NBA). Em Angola fez a formação no 1º de Agosto, antes de ir para os Estados Unidos da América onde jogou basket universitário no Maryland Terrapins.
Idade: 23 anos (nascido em Luanda aos 15 de Agosto de 1998)
Altura : 2,06 m
Ingresso: 2019 (Ronda: 2 / Escolha: 34)
Educação : Universidade de Maryland
Carreira: 2019 – presente
2019 – 2021: Atlanta Hawks
Presente: Boston Celtics
Estatísticas
Ano | Equipa | GP | Min | Pts | Reb | ||
2021 | Celtics | 04 | 15 | 9,25 | 5,25 | ||
2020 | Hawks | 33 | 6.8 | 1,5 | 2,4 | ||
2019 | Hawks | 56 | 12,7 | 4,3 | 3,5 | ||
Carreira | 89 | 10,6 | 3,3 | 3,1 |